Local: Ponte Estaiada - Brooklin - SP
Data: 02/05/10 às 9h - 25ºC Sol
Numeral: 5832 -
Peso: 78 kg
Resultados: 42,195 km em
04:35:29 pace 06:32 min/km
Junho de 2007: Primeiro passo para uma grande jornada. Maio de 2010: Inúmeros passos e alguns números: 50 provas em 525 km's competidos, inúmeros treinos em 1.396 km's percorridos. Totalizando: +/- 149 horas em constante movimento. Pausas pelo caminho ? Diversas: desmotivação, lesão, doença e até cirurgia. Mas persisti e aqui estou como maratonista, para relatar, comemorar e agradecer por este sonho realizado. Aliás, fica aqui um desabafo: Nunca diga para uma pessoa que o sonho dela é uma ilusão.
"Na vida, as maiores lutas do homem são travadas na solidão. Assim também é nas corridas longas. E nestas, como na vida, o ato de participar é mais importante do que vencer, ainda que seja a ilusão da vitória que nos dê forças para continuar lutando." O lendário
Emil Zatopek, sintetiza nesta frase tudo o que eu acho que acho sobre uma maratona. Permanecer por tantos minutos, mergulhado na solidão temporal de tantas passadas, a fim de se cruzar uma linha de chegada que nunca chega e que em muitas das vezes não terás nem o merecido aplauso, é de uma abnegação e humildade quase ascética. Seja por isso que a maioria dos maratonistas vem de famílias pobres, pois eles sabem como sofrer. Correr é o esporte mais fácil, prático e pobre (na concepção financeira da palavra) que conheço. Aliás, inexiste o fator socioeconômico: não necessitas de hora e local específico, nem companheiro e/ou adversário, nem mesmo de equipamentos para ser mais xiita.
Correr é um paradoxo ao enfrentar a solidão em busca do prazer, da alegria, seja ela balsamada pela adrenalina, endorfina, dopamina... Talvez, o efeito deste paradoxo fica claro na atração quase fisiológica que os corredores têm em reunir-se em equipes, realizarem treinos coletivos, trocarem tantas idéias, enfim, tentarem suprir através da socialização a solidão enfrentada diante de tanta superação e esforço desprendido. E, numa maratona, e sua preparação, isto fica mais explicito. Por isso agradeço e muito a todos aqueles que me apoiaram:
os amigos não corredores e principalmente os corredores, a minha namorada Leiliane, a minha família e a Deus.
Todos têm objetivos. Consciente da não plenitude de minha preparação para estrear: muitos treinos e musculações pulados, dois longões abreviados e uma chata dor na panturrilha, colocaram-me na defensiva. Assim, o sonhado sub-4h ou o almejado sub-4h12min (pace 6 min/km) estava claramente distante, visto o disposto. Mesmo assim fui à busca do pace perfeito (6 min/km) e larguei estrategicamente para um split positivo: rodar abaixo de 6 mim/km até a meia maratona. Pois sabia que na segunda meia o sol ia apertar, o cansaço e a dor chegar, e ia começar a definhar. Assim passei forte nos primeiros km’s: inteiro, confiante e correndo prazerosamente bem. Percebei, porém não reconheci que a abertura da margem pro objetivo estava exagerada nas parciais, conforme demonstrado: 05 km: 00:27:41, 10 km: 00:54:38, 15 km: 01:23:21, 21 km: 01:58:47, ou seja, pace na 1ª. meia de 5'39".
Forte, mantenho, com o objetivo de esticar este ritmo até os 25km. Chego fisicamente bem e inúmeros corredores na modalidade 25km finalizam sua participação no evento. A quantidade de corredores cai vertiginosamente e neste ponto crítico, agravado por dois grampos, o psicológico quase desengrena. Encontro com o
Guilherme Maio que passa e puxa a fila, assim como o Renny de SJC e vejo num dos grampos, um pouco atrás o amigo de pace Fábio Matheus, que espero encontrar para me puxar mais adiante quando eu for reduzir. Até aqui tudo bem... 26, 27, 28 com uma elevação nestes paces +/- de 6'15".
No km 29 sinto um desconforto na perna direita, reduzo. Fábio Matheus encosta e chama, declino. Mantenho a marcha lenta e num grampo no km 30 veio à primeira das sucessivas câimbras, justamente na panturrilha direita que estava no limite desde os treinos de polimento. O susto foi tão grande que um grito foi inevitável. A partir daí, os problemas físicos foram aumentando, talvez pela intermitência: trote/caminhada/trote. Relatar todo o sofrimento aqui ficaria longo, mas resumo dizendo que a sensação de estar com o cardiorrespiratório inteiro, mais a imensa vontade de correr e não conseguir, não ter a confiança na passada, é desesperador. Só me restava trotar, muitas vezes parar, alongar, caminhar e trotar. Nesta toada os paces variaram entre a mínima de 7’37” no km 31 até a máxima de 9'09" no km 39.
Procurei abstrair, pensar em coisas diferentes, cantei, rezei e desencanei com o tempo, minha preocupação era apenas em não travar tudo e não consegui terminar.
Assim seguia. Até que quando as câimbras já estavam implícitas nas passadas, a dor já não era mais dor, e o cansaço não podia mais ser chamado de cansaço, entro na reta final ao uníssono som de “vai Michel” ecoando da arquibancada, pela entusiasmada torcida da Leiliane e dos amigos corredores. Emocionado, desidratado, com lágrimas nos olhos e sorriso no rosto, enfim, cruzo a linha de chegada. Longa pausa... passa uma vida na minha mente, curto o momento e silenciosamente comemoro. Vou pegar o kit pós-prova e antes mesmo de colocar a medalha no peito, ouço novamente a voz da Leiliane e sou recepcionado com um “Parabéns meu Michel MARATONISTA !”. Emocionante. Nesta maratona não sei quantas vezes respirei, mas sei quantas perdi o fôlego de emoção.
Percurso difícil (vários grampos) com segurança e sinalização impecáveis. Hidratação bem posicionada, porém alguns postos quente. Kit pós-prova recheado, com duas camisetas (uma tecnológica, outra de algodão) e linda medalha MARATONA. Organização ótima, porém a Yescom/Rede Globo pisam na bola com o horário tardio da largada, numa cidade abafada como SP. No mais, SHOW !